Estudos recentes sugerem que provavelmente o tipo sanguíneo não se relaciona com a probabilidade de se infectar e nem com a gravidade da COVID-19.
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Inicialmente (em 2020), foi relatado que a gravidade da COVID-19 e a probabilidade de infecção pelo SARS-CoV-2 (coronavírus causador da COVID-19) variam de acordo com o tipo sanguíneo ABO (A, AB, B e O). Pensava-se que indivíduos com tipo sanguíneo A e AB possuíam maior risco de se infectar pelo SARS-CoV-2 e de ter COVID-19 grave, enquanto o tipo sanguíneo B e O possuíam um menor risco. Dentre as hipóteses, para explicar o motivo da diferença nas taxas de infecção e gravidade da COVID-19 nos diferentes tipos sanguíneos, estava a presença ou ausência no paciente do anti-A IgG (anticorpo presente somente nos indivíduos do grupo O e B). Outro estudo sugeriu uma maior probabilidade do SARS-CoV-2 de se ligar com estruturas do antígeno A presentes nas células do pulmão dos indivíduos com tipo sanguíneo A e AB, justificando a maior probabilidade de infecção pelo coronavírus nesses indivíduos. Porém, diversos outros estudos não verificaram a relação entre o tipo sanguíneo e a probabilidade de infecção pelo SARS-CoV-2, muito menos a relação com a gravidade da COVID-19. Algumas justificativas para os diferentes resultados entre os estudos estão no fato da maioria desses estudos contarem com amostras pequenas (analisaram poucos indivíduos), a metodologia (a maneira de se escolher os participantes e de obter e analisar os dados) escolhida, variações entre os diferentes locais do mundo que foram realizados e a diferenças entre as cepas do SARS-CoV-2. Um estudo recente, com uma amostra maior e metodologicamente superior aos estudos anteriores, verificou que não há diferença entre os tipos sanguíneos em relação à probabilidade de se infectar pelo SARS-CoV-2 ou ter COVID-19 grave. Portanto, com os dados disponíveis no momento, acredita-se que o tipo sanguíneo não se relaciona com a probabilidade de se infectar e nem com a gravidade da COVID-19. Novos estudos, que considerem a genética, o país onde os pacientes moram e a cepa viral causadora da doença, são necessários antes de poder estabelecer ou descartar definitivamente uma relação entre o tipo sanguíneo e a predisposição ou gravidade da COVID-19.
Referências:
ANDERSON, Jeffrey L. et al. Association of sociodemographic factors and blood group type with risk of COVID-19 in a US population. JAMA Netw Open, 5 abr. 2021. Infectious Diseases. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2778155. Acesso em: 17 abr. 2021.WU, Shang-Chuen et al. The SARS-CoV-2 receptor-binding domain preferentially recognizes blood group A. blood adv, p. 1305–1309, 3 mar. 2021. Disponível em: https://ashpublications.org/bloodadvances/article/5/5/1305/475250/The-SARS-CoV-2-receptor-binding-domain. Acesso em: 17 abr. 2021.
UpToDate. Uhl, Lynne. Red blood cell antigens and antibodies. Informação atualizada em: 26 mar. 2021. Disponível em: www.uptodate.com/contents/red-blood-cell-antigens-and-antibodies. Acesso em: 17 abr. 2021.
UpToDate. McIntosh, Kenneth. COVID-19: clinical features. Informação atualizada em: 2 abr. 2021. Disponível em: www.uptodate.com/contents/covid-19-clinical-features. Acesso em: 17 abr. 2021.
Autor do resumo:
Gustavo José Miranda da Cunha
Revisor do resumo:
Profa. Dra. Maria Cristiane Barbosa Galvão
Observação:
Geralmente, o Projeto Fale com o Dr. Risadinha busca informações com alto nível de evidência científica para fornecer respostas seguras e confiáveis ao seu público. Mas por se tratar de assunto novo, muitas informações sobre coronavírus e COVID-19 são opiniões de especialistas, carecendo de mais estudos científicos que as comprovem.