terça-feira, 28 de abril de 2020

Fumar protege contra a COVID-19?


Cigarros possuem diversas substâncias que podem prejudicar os sistemas cardiovascular, pulmonar e imunológico, dificultando a melhora do paciente com COVID-19.
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Para penetrar em uma célula humana, os vírus ligam-se a algumas moléculas que as células humanas expressam (apresentam) em sua superfície, o que leva a célula a internalizar o vírus, ou seja, o vírus vai para dentro da célula, infectando-a e permitindo a replicação do vírus. O Sars-CoV-2 (vírus causador da COVID-19), para invadir as células humanas, se liga a uma molécula chamada de enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), sendo que a ECA2 é encontrada principalmente em células localizadas nos pulmões humanos. Há diversas substâncias que podem aumentar ou diminuir a expressão (quantidade) da ECA2 nas células humanas, fazendo com que o Sars-CoV-2 infecte essas células com mais facilidade (mais ECA2) ou com mais dificuldade (menos ECA2). A utilização do ibuprofeno, por exemplo, foi apontada como um possível fator que aumenta a expressão das moléculas de ECA2, facilitando a infecção das células pelo Sars-CoV-2, o que levou diversos profissionais a contraindicarem a utilização do ibuprofeno no cenário do COVID-2019. Já em relação a nicotina, alguns estudos sugerem que sua utilização causa uma redução na expressão da ECA2, diminuindo as moléculas disponíveis para o Sars-CoV-2 se ligar e invadir as células pulmonares e, consequentemente, dificultando a infecção dessas células pelo Sars-CoV-2. Portanto, sugere-se que a utilização de nicotina apresenta um efeito protetor, dificultando a infecção pelo Sars-CoV-2 e a ocorrência de COVID-19. Porém, outro estudo contraria esses dados, apontando na verdade um aumento na expressão da ECA2 em fumantes, ou seja, um efeito prejudicial da nicotina em relação a infecção pelo Sars-CoV-2. Além da ECA2, outra molécula desperta atenção, sendo chamada de receptor nicotínico de acetilcolina (nAChR), molécula que quando ativada ocasiona, dentro de várias funções, um efeito anti-inflamatório. Um estudo sugere que o Sars-CoV-2 é capaz de realizar uma ação bloqueadora sobre nAChR, promovendo uma reação inflamatória exacerbada no corpo do paciente, piorando o seu quadro clínico. A utilização da nicotina poderia contrariar a ação do SARS-CoV-2 sobre os nAChR, reduzindo a inflamação e melhorando o prognóstico (evolução) do paciente. Porém, ainda são necessários mais estudos epidemiológicos e clínicos específicos, para conhecer melhor a relação da nicotina com o Sars-CoV-2. Vale lembrar que a presença de doença pulmonar crônica induzida pelo tabagismo aumenta a gravidade e a mortalidade dos casos de COVID-19. Além disso, os cigarros possuem diversas outras substâncias, além da nicotina, que podem prejudicar os sistemas cardiovascular, pulmonar e imunológico, piorando ainda mais o prognóstico (evolução) da paciente com COVID-19. Portanto, caso seja futuramente comprovado um efeito protetor da nicotina em relação à COVID-19, propõe-se que a terapia ocorra por meio de adesivos de nicotina ou outros métodos de administração da nicotina (como mascar chiclete de nicotina) e não pelo ato de fumar (tabagismo). É importante destacar ainda que a utilização da nicotina deverá ser realizada sob condições controladas, devido a ser uma droga de abuso responsável pelo vício de fumar.

Referências: 
ALIFANO, Marco et al. Renin-angiotensin system at the heart of COVID-19 pandemic. Biochimie, v. 174, p. 30-33, 16 abr. 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S030090842030078X?via%3Dihub. Acesso em: 25 abr. 2020.

OLDS, James L.; KABBANI, Nadine. Is nicotine exposure linked to cardiopulmonary vulnerability to COVID19 in the general population?. The Febs Journal, 18 mar. 2020. Disponível em: https://febs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/febs.15303. Acesso em: 25 abr. 2020.

BERLIN, Ivan et al. COVID-19 and Smoking. Nicotine & Tobacco Research. 3 abr. 2020. Disponível em: https://academic.oup.com/ntr/advance-article/doi/10.1093/ntr/ntaa059/5815378. Acesso em: 25 abr. 2020.

CHANGEUX, Jean-pierre et al. A nicotinic hypothesis for Covid-19 with preventive and therapeutic implications. Qeios, 21 abr. 2020. Disponível em: https://www.qeios.com/read/article/571. Acesso em: 25 abr. 2020.
Autor do resumo:
Gustavo José Miranda da Cunha

Revisor do resumo:
Profa. Dra. Maria Cristiane Barbosa Galvão

Observação:

Geralmente, o Projeto Fale com o Dr. Risadinha busca informações com alto nível de evidência científica para fornecer respostas seguras e confiáveis ao seu público. Mas por se tratar de assunto novo, muitas informações sobre coronavírus e COVID-19 são opiniões de especialistas, carecendo de mais estudos científicos que as comprovem.


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